quarta-feira, 18 de maio de 2011

Desabafo




Há muito não postava nada, mas hoje, não sei se por tal dor que sinto em meu peito, resolvi escrever.
Peço desculpas primeiramente aquelas pessoas que sei que acompanhavam cada postagem aqui, tentarei daqui pra frente não deixar mais de postar.
Mas hoje, quero falar de mim, da minha dor. Quero desabafar!


Fui criada em uma ditadura militar muito grande, apanhava muito desde muito cedo, desde os 05 anos de idade, por coisas pequenas, se abrisse uma porta e não fechasse, se colocasse o copo usado em cima da mesa ao invés de colocá-lo na pia, se esquecesse de fazer algo que foi pedido. Apanhava de tudo, desde couro trançado de bater em burro até de salto fino, minha mãe nunca se importou em onde iria pegar, pegava em minha cabeça, em meus braços, colcha, bunda, pernas, eu era uma criança marcada. Verdadeiramente marcada até o psicológico.
Sempre fui só, nunca tive pai, e nunca consegui preservar amizade alguma. A ignorância de minha mãe, me entorpecia e eu absolvia tudo que presenciava desde cedo julgando como normal. O terço nas mãos e o chicote nas costas e ela só gritava: "Não pare de rezar!", ou "Não chore! Não grite! Se entupa!".
Claro que eu ia chorar, claro que eu ia gritar, eu era apenas uma criança!
Aos oito anos de idade eu dormi pela primeira vez ao relento. A lavanderia era do lado fora de casa, mas ainda assim fazia parte da casa, só que era a céu aberto, foi lá que passei muitas noites. Mas essa específica eu nunca esqueci. Dormi nua, totalmente, sem direito a nem uma calcinha. Morri de bater na porta de gritar na janela do quarto dela, em vão, vi o dia amanhecer. E quando amanheceu você pensa que fui dormir? Ora, tem a casa pra arrumar, banheiro pra lavar, pois como ela sempre dizia nas hora em que fazia isso eu era sua "piniqueira". E durante todo o serviço... como eu apanhava!!! Me pegava de surpresa, pelas costas enquanto eu lavava o banheiro. Eu a temia como se fosse um monstro. Em 1999, eu fazia 3ª série, aos 9 anos, me lembro de ter escondido por medo de sua reação, uma prova, e quando ela soube, apareceu na hora do recreio, me puxou pelos cabelos na frente de todos os meus colegas de classe e todo o resto da escola e esfregou minha cara na parede ao lado das escadas pra sala. De lá pra cá nunca mais deixei de ser piada na boca de todos.
Ela arruinou minha vida, me fez perder a vontade de viver e para sempre me senti assim!
Castigos no escuro em baixo da mesa da cozinha e viajar para Sobradinho me deixando trancada em um quarto sem televisão, sem rádio, sem banheiro, por dias apenas pão e água. Ah! Tinha um pinico ou uma bacia pra eu fazer xixi.
Deu joelhos com botijão de gás na cabeça ou uma bacia cheia de tijolo foram coisas que se tornaram muito freqüentes.
Eu sempre participava de música, teatro, dança... Sempre tinha algumas peças que apareciam pra fazer. Passava meses ensaiando, decorando fala, provando roupas e na hora ela simplesmente olhava pra mim e dizia:"Não vai!" "Mas mamãe?" "Pronto eu num já disse que não vai?"... Perdi muito....
Outra coisa que também me entristece nas recordações é saber que eu era boa aluna e nunca tinha filado uma aula, mas fui para uma escola nova, passei a estudar a tarde e ter aulas de laboratório pela manhã. Minha mãe sempre aparecia na escola antiga de repente no meio da aula pra ver o que eu estava fazendo, mas eu conheci uma pessoa e tal, comecei a me envolver e pela primeira vez filei uma aula. Mas não foi aula "normal", de tarde, não!!! Foi a de laboratório ( a que era pela manhã ). Quando voltei pra casa, mal sabia o que me aguardava. Não levei pisa alguma! Apenas entrei no carro e fui pra Roça! Desde esse dia, 28/05/04, jamais pisei em uma escola, fiquei na enchada, carreguei cano nos ombros, dois por vez, ela sempre alí do meu lado pronta para um açoite a qualquer vacilo meu, até que chegou o ano seguinte, no qual ela fez questão de me matricular como repetente na escola anterior para que eu visse todos os meus colegas no 1º ano e eu na 8ª. Mais uma vez fui chacota. E na escola que agora se tornava antiga virei chacota também, pois ninguém sabia o porquê de eu ter saido assim tão de repente.
Mas isso não é nada do que eu passei...
São uma das poucas feridas que nunca vão cicatrizar porque nunca vou perdoá-la!
Nunca ligou pra mim... Já fiquei em cima de uma cama com febre e ela era incapaz de me dar um remédio sequer. Só sabia dizer: "Levanta menina, vai tomar o remédio!" . E eu me tremia de febre. Eu ficava roxa... Sentia vontade de me matar... Sentia vontade de matá-la... Ela foi meu inferno de vida... O cão com o terço na mão!

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